Foto: Reprodução/Rede social
Imóvel histórico que abriga a memória de um dos maiores escritores brasileiros tem acervo violado em meio a obras de restauração. Caso reacende debate sobre segurança e preservação do Centro Histórico de Salvador.
Um dos marcos mais simbólicos da literatura brasileira sofreu um duro golpe nesta semana. A Casa de Jorge Amado, localizada no coração do Pelourinho, em Salvador, foi invadida e furtada durante o processo de reforma pelo qual o imóvel vem passando. A ocorrência, que gerou indignação entre autoridades e representantes do setor cultural, escancara a vulnerabilidade do patrimônio histórico na capital baiana.
O imóvel é sede da Fundação Casa de Jorge Amado desde 1987 e guarda um acervo valioso composto por manuscritos, cartas, fotos, documentos e objetos pessoais do autor. De acordo com informações iniciais, ainda não confirmadas oficialmente, alguns itens do acervo teriam sido levados pelos criminosos, que teriam aproveitado a movimentação reduzida causada pela obra para agir durante a madrugada.
A Polícia Civil investiga o caso e analisa imagens de segurança da região. A Fundação Casa de Jorge Amado emitiu nota lamentando o ocorrido e informou que fará um inventário para identificar os itens eventualmente furtados. A Secretaria de Cultura da Bahia também se pronunciou, prometendo reforçar a segurança do local e acelerar o cronograma de restauração.
Símbolo da cultura baiana e da identidade brasileira
A casa onde o escritor viveu por anos não é apenas um ponto turístico, mas um centro de memória viva da cultura afro-brasileira, baiana e nordestina. Jorge Amado, conhecido mundialmente por obras como Gabriela, Cravo e Canela, Capitães da Areia e Dona Flor e Seus Dois Maridos, sempre foi um defensor da cultura popular e dos direitos sociais. Sua casa, transformada em museu, é um portal para compreender o universo que moldou sua literatura: o sincretismo religioso, as ruas de Salvador, o povo da Bahia.
O furto, nesse sentido, representa mais do que uma perda material. É uma ferida aberta na história viva da cidade, que luta diariamente para manter preservada sua identidade cultural em meio ao abandono, à especulação imobiliária e à crescente insegurança.
Pelourinho em risco: o desafio da preservação
Não é a primeira vez que imóveis históricos no Centro Antigo de Salvador são alvo de furtos ou depredações. Moradores e comerciantes da região têm denunciado com frequência a falta de policiamento e a ausência de uma política efetiva de preservação e ocupação cultural dos espaços públicos.
A restauração da Casa de Jorge Amado, iniciada no final de 2024, faz parte de um projeto maior de requalificação do centro histórico. Porém, especialistas em patrimônio alertam que ações pontuais não são suficientes: é preciso garantir segurança, funcionalidade e valorização social desses espaços para que não se tornem apenas estruturas vazias — e vulneráveis.
Reações e próximos passos
O Ministério da Cultura foi informado e deverá acompanhar o caso, já que a Fundação Casa de Jorge Amado é referência nacional. Personalidades ligadas à literatura e à cultura baiana se manifestaram nas redes sociais. A escritora baiana Itamar Vieira Junior classificou o episódio como “um atentado à memória da literatura brasileira”.
Enquanto isso, a Fundação segue empenhada em proteger o acervo e concluir as reformas, que incluem a modernização da exposição, acessibilidade e melhoria estrutural do imóvel. A previsão de reabertura segue para o segundo semestre de 2025, agora sob uma nova sombra: a da insegurança que ronda até mesmo os ícones mais sagrados da cultura brasileira.